quarta-feira, 27 de maio de 2009

Cobertor Corporal

Crônica de um corpo

Desde que perdi aquele blusão não consigo mais seguir.
Sigo sentindo mais frio que antes, sentindo mais medo que antes.
[Na verdade sentindo medo, coisa que não acontecia antes].
Aquele blusão era único, era da minha mãe, ou tias, não lembro.
Era estranho, era velho, mas eu, jovem, queria como um novo que causa estranhamento.
Perdi ele num dia 13. Não era sexta-feira, mas foi um dia de azar.
Perdi um pouco de mim ao perde-lo. Ele fazia parte de mim. Naquele dia estava com o perfume que mais gostava. Ele também me tinha. Tanto tinha, que continuo me sentido presa a ele, como se alguém o tivesse aprisionado. Guarda roupa é o policial que prende as vestes. É prisão. No meu caso, ou melhor, no caso do meu "antigo" blusão, é prisão perpétua. Acho que não vou mais poder vê-lo, e se ver, no máximo esquentará os meus os olhos, não será mais aquele cobertor que aquece durante o dia, e a noite, se não descansa ao meu lado, me olha ao dormir.


** notícias do blusão: ele era[sempre penso no pior]/é claro, cor creme, mas acho que quando o perdi continha cheiro de baunilha.

Não existe outro igual. Esqueço o blusão ou tento encontrá-lo?
Crônica a espera de um fim.


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