sexta-feira, 25 de março de 2011

Pretinho Básico

Ele era preto, um pouco velho, com ares joviais. Perfumado de fragrâncias diversas [cheio do dia-a-dia, carimbado de histórias e memórias]. Sempre que saia, pensava se o armário -seu aconchego, a escuridão que o envolvia, e as próximas companhias- não seria melhor opção. Porém era vítima das escolhas de outrem, submisso às vontades de quem pensava ser sua dona. Reprimido por anos, parecia esconder a carga pesada que carregava - tristezas, frustrações, ansiedades e angústias. Acho que a lembrança dos bons momentos o iluminavam, mesmo que sua cor estivesse cada vez mais pálida - apagado mesmo.
Naquele domingo fazia calor, sol e vento desalinhavam, enquanto resistia, objeto firme à forma com que lhe carregava pela mão -como se não quisesse sua presença ali, no balanço do ônibus.
No meio do percurso notou  que a companheira estava dispersa, conversando com um ex-colega de setor e que, este poderia ser o momento "ação" - mesmo tendo que contar com a total distração da referida moça.
Poderia se desvencilhar de tamanho laço? Será que ela ainda sentia o mesmo do início, quando a qualquer pessoa querida me apresentava com certo orgulho [não por sua beleza em si, não tinha grandes diferenciais: comum e não chamativo], dizendo que me emprestava se fosse necessário. "Não tenho ciúmes", ela dizia, em tom de brincadeira, com aqueles olhos e sorriso que tanto combinavam com aquele rosto fino e forte...

Pensou durante o tempo que dispunha e, por fim, estava decidido em agir. Ação que se caracterizava pelo ato de ficar em silêncio, sem movimento algum para não chamar a atenção  -atenção que outrora tentava  chamar de todas as formas por algumas combinações, que somente um disco de cores entenderia.
Sua estratégia foi feliz: ela se foi, ele ficou... E comprovou que foi o melhor: ela já pensava em ter outro [mais novo, de outra cor, quem sabe] e sequer teria a chance de lhe procurar, pois o ônibus partiu e, algumas paradas depois, outra moça sentou-se ao seu lado, encarando-o profundamente. Sem reação, sentiu-se acolhido, e novamente envolvido [e envolvendo]. Desceu do coletivo acompanhado por outra singular.

E a outra moça, após descer, abriu os olhos, fechou o sorriso e, pelo contrário, logo deu pela falta do companheiro. Pensou em entrar em contato com a empresa do ônibus, mas pensou:
Tenho mesmo que me desvencilhar do passado.
Ele carregava pedaços da sua própria história. Cinco anos de relacionamento (conveniência?), e de uma coisa estava certa: encontraria outro que lhe agradasse, porém procuraria um da mesma cor, em memória daquele que pensava falecido.
 [Não sabia que a partir daquele fatídico fato havia recomeçado sua vida].

Passou frio naquela final de tarde, sentada na grama, sozinha [mesmo que acompanhada], sorvendo mate: o casaco agora só aquecia lembranças.


.?.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Velocidade Média ou 24 h/dia

correndo como uma louca das LOUCurAS que me perseguem.

eu estou sã,
mas
eu sou várias.


.?.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Dá-se um jeito!



Porque existem diversas formas de se demonstrar como se é. Diferentes maneiras de se transmitir o que se sente. Vários modos de (me-lhe) (D) escrever.
 Uma imagem consome mil palavras. Mas ela não fala, quer escutar?


.?.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Da Descrição [ou relato do olhar e sentir]

Delimitar quem és?
Talvez
Misto do Não e do Sim,
O externo antes do interno.
Nega(ação) Afirmativa(ndo).
Biografia?
Retrato Falado,
para uma (des)conhecida...


.?.